Vida de Ozanam (V)
Cresce a Conferência
de Caridade
Na Conferência de
Caridade, pretendiam os fundadores mantê-la restrita entre eles, unidos pela
amizade para a caridade. A admissão de estranhos poderia esfriar o ambiente e
destruir a intimidade reinante. No entanto, havia fora alguns colegas vivendo a
mesma fé, que podiam ajudar sendo ajudados. Entraram assim novos confrades -La
Noue, Le Prevost, Hommais, Pessoneaux, Chaurand -subindo a 15 no verão e a 25
no outono de 1833, sendo 18 deles propostos por Ozanam.
A Sociedade alargava
seus serviços aos pobres, atendidos tanto na miséria do sustento como na da
alma. Semanalmente realizavam os confrades suas visitas, fazendo-se notados a ponto
de organizações do Governo solicitarem-lhes a colaboração, assistindo jovens
delinquentes, prisioneiros; a própria Irmã Rosalie ia procurá-los para ensinar
operários a escrever. Alegrava-os mais o apoio do Padre Fandet, seu vigário, a
quem comunicavam seus trabalhos e que lhes trouxe os aplausos do Arcebispo.
Nasce a Sociedade de
São Vicente de Paulo sob a protecção da Virgem Maria
Desde a fundação, a
Conferência se colocara sob o patrocínio de São Vicente de Paulo, santo francês
muito popular, chamado mesmo de “Pai da Pátria” Em sessão de 4 de Fevereiro de
1834, Le Prevost lembrou que adoptassem não só o patrocínio mas o título de São
Vicente de Paulo para a Sociedade, com sua invocação nas orações oficiais, e
solene celebração de sua festa. A proposta mereceu aprovação sob aplausos.
Estava baptizada a Sociedade.
Ozanam, grande devoto
da Mãe de Deus, concordando com o patrocínio de São Vicente, sugeriu, recebendo
aprovação, que fosse a obra colocada sob a protecção da Virgem Maria,
acrescentando-se a Ave-Maria às orações e comemorando-se uma de suas festas.
Aceitaram a da Imaculada Conceição, adoptando a Sociedade duas festas no ano. A
decisão é tanto mais para destacar, pois somente em 1854 foi proclamado pela
Igreja o dogma da Imaculada Conceição.
Bacharel em Direito
Após submeter-se aos
exames para licenciamento em. Direito, Ozanam recebeu o Diploma de Bacharel, em
15 de Março de 1834. Dominado por justificada satisfação, apressa-se em transmitir
o acontecimento à sua mãe, com a exclamação em carta: “Eu, Bacharel!” E acrescenta:
“A Senhora já pensou nisso?” Mas acrescentava em seguida: “O título de Bacharel
não é, porém, grande coisa”. Isso porque precisava conquistar ainda o doutorado
em Direito, profissão que não lhe agradava.
O Bacharel Frederico
Ozanam chegou a Lião para gozar as férias com a família, no feliz: ambiente
doméstico, desfrutando o calor da amizade paterna, as delícias do aconchego
materno, os conselhos do irmão mais velho e a satisfação do casulo. Não
esquecia Paris, no entanto, sobretudo os camaradas vicentinos, a bonomia de
Bailly, e as sessões da Conferência. Foi com alegria que recebeu consentimento
do pai para retornar a Paris e preparar a tese para o Doutorado.
Divisão da primeira
Conferência de Caridade
No dia 23 de Abril de
1834 Ozanam atingia a maioridade. Encara os 21 anos com toda a seriedade,
voltando seus pensamentos para Deus e para a morte -”esses dois companheiros
que sempre nos acompanham”. Começava a obrigação de jejuar. Continuava a
enfrentar as tentações do mundo e ainda mais as maldades dos colegas que o
tachavam de carola. Via em tudo provações que deveria dominar para ser mais
útil ao serviço de Deus.
Em Novembro de 1834
chega Ozanam a Paris. Iria coroar com grau superior seus estudos jurídicos.
Teria que enfrentar dura luta com estudos e trabalhos vicentinos, sem esquecer
a Literatura. A divisão da Conferência, já tão numerosa, era, a seu ver, uma
questão de sobrevivência daquela obra. Levar o Pe. Lacordaire ao púlpito de Notre
Dame para instalar uma apologética consoante com a época, era outra meta a
atingir. Ozanam enfrentaria tais obstáculos com pertinácia.
O número de confrades
aumentava tanto que, em Dezembro de 1834, era 100. Isto criava sérios
inconvenientes, entre outros, o alongamento das sessões com os relatórios das
visitas aos assistidos. Ozanam vinha insistindo, desde abril, na divisão da
Conferência, sendo repelido por alguns que argumentavam a impossibilidade de
Bailly presidir mais de uma sessão, o que faria perigar a novel sociedade. Na
volta das férias, retomou o problema com decisão.
Como persistisse a
oposição de alguns, inclusive de La Taillandier, que chorava ao pensar no caso,
Bailly designou em 31 de Dezembro uma comissão para tratar do assunto defendido
por Ozanam. As divergências iam promovendo o tumulto, quando soou meia-noite.
Bailly pediu que se abraçassem no novo ano, e confiassem a ele a decisão final.
Todos concordaram mas só a 24 de Fevereiro de 1835 Bailly procedeu à divisão da
Conferência em duas secções.
Admitida a divisão, começaram
a surgir novas Conferências, todas, porém, sob a presidência de Bailly, “o Pai Bailly”,
guarda das tradições, mas tendo Ozanam como a alma daquela dispersão,
acompanhando todo o movimento. Ele tinha em vista a santificação pessoal dos
confrades e especialmente a preservação moral e religiosa da juventude académica.
Nesse sentido. pensava na melhor forma de levar Deus à inteligência e ao coração
dos moços. A solução seria o Padre Lacordaire.
Arcebispo finalmente
permite a realização de conferências em Notre Dame
As ocupações dos
jovens estudantes na Conferência não os impediam de cuidar dos meios para
formação cristã dos intelectuais, especialmente no combate ao ensino ateu na
Sorbona. Voltaram, então, a insistir junto ao Arcebispo pela realização de
conferências em Notre Dame, a cargo de Lacordaire. Embora preferindo outros, D.
Quélen designou, afinal, este sacerdote. Assim, a 8 de março de 1835, Lacordaire
obtinha retumbante êxito, atraindo uma grande multidão desejosa de conhecer as
verdade eternas.
A insistência de
Ozanam pela escolha de Lacordaire fundamentava-se nos insucessos de oradores
precedentes naquele púlpito. E o Arcebispo, que tanto relutara ante seus
apelos, vibrou de entusiasmo vendo o templo inteiramente lotado pela fina flor
da intelectualidade francesa, chamando o ilustre sacerdote “consolação e alegria
de seu coração” Ozanam convidava colegas e professores, e, para lhes garantir
lugares, chegava duas horas antes na igreja, a fim de reservá-los, agradando
assim aos retraídos.
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