«Somos chamados ao trabalho desde a nossa criação. Ajudar "pessoas em situação de pobreza", deve ser sempre um remédio provisório. O verdadeiro objectivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho» Laudato Si: página 88.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Virtudes da espiritualidade vicentina

A Espiritualidade vicentina está pautada, desde sua gestação, mediante o testemunho de Vicente de Paulo e seus primeiros companheiros de missão, no contexto da Igreja do século XVII, na França, em cinco virtudes, colhidas do Evangelho de Jesus Cristo e da sua práxis libertadora junto ao povo empobrecido e marginalizado. Estas virtudes são assim nomeadas pelo próprio Vicente de Paulo: simplicidade, humildade, mortificação, mansidão e zelo pelas almas (zelo apostólico).

Simplicidade (1)


A virtude da simplicidade educa-nos na capacidade de desenvolver os valores da verdade, da sinceridade, da transparência. Viver plenamente a simplicidade nos ajudará a evitar ser falsos uns com os outros e muito menos com o povo; por esta virtude somos chamados a ser simples, a dizer as coisas como são, sempre com sinceridade em relação à outra pessoa

Diante dos desafios que o pluralismo de ideias e de valores e contra-valores que a sociedade capitalista nos impõe, precisamos ficar mais atentos em relação à nossa postura junto ao povo e o cultivo de valores que não são transitórios, mas base para a vida com dignidade. Um desses valores é o cultivo da simplicidade. O povo ao qual procuramos evangelizar se aproximará de nós mediante nossa postura diante dele. A simplicidade impregnada em nossos atos possibilitará essa pedagógica aproximação do povo ,mais simples a nós e vice-versa.

O próprio São Vicente definiu na sua vivência a importância desta virtude na vida de um vicentino: "A simplicidade é a virtude que mais amo, eu a chamo de meu evangelho" (SV I,284).  
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Comentário:
Os pais quando pensaram na gestação do seu bebé, pensaram com o pressuposto que a vontade foi de amor de um-para-outro, com expectativas de gerar uma criança e que se desenvolva forte, saudável, bonita. Também estou certo que sendo cristão, seguidores de Jesus Cristo e, no ensinamento dado por Ele, ao longo dos anos vão cultivando no seu bebé no desenvolvimento psicológico ao longo de vida, a simplicidade mais tarde é reconhecida e bem aceite pela sociedade. Existe um ditado antigo que diz: nas costas dos outros vejo as minhas, ou se é bem educado se vê a educação dos pais! Ao longo dos anos tenho verificado que as pessoas por manifestações de simplicidade, (algumas vezes na sua simplicidade é prejudicado) mas na maior parte é reconhecido e bem aceite. Quantas vezes dizemos; bem vamos lá satisfazer o nosso amigo, ele até uma pessoa boa, simples e dá gosto trabalhar! 
Mas também há, os que mesquinham os nossos amigos no trabalho, no grupo são criticados e quantas vezes nas costas, e quantas vezes fugimos deles.   
Terei que ligar a frase do Senhor Vicente: a pedagogia da simplicidade aproxima as pessoas, mesmo que, elas, sejam ainda duras de coração. Pegar na simplicidade de um nosso irmão e amá-lo torna-se mais doce, mais fácil a conquista!
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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Aos pés do seu soldado

Joaquim apresentou-se para o serviço militar obrigatório, interrompendo os seus estudos no seminário. Dizia ele que queria experimentar o serviço militar e aí descobrir realmente se o sacerdócio seria a sua vocação. 
Deu com um sargento de pelotão com maus fígados, que lhe fez a vida negra, quando soube que andara no seminário e era a sua intenção continuar a sua caminhada vocacional:
- Então, diga-me lá, ó soldado, ouvi dizer que te dizes seminarista e queres ser padre!
- Sim, meu sargento!
- Pois então, que não o veja aqui a disparar por todos os lados pai-nossos, hossanas ou avé-marias, que isto é um quartel e não um seminário e muito menos uma igreja.
- Mas fora do serviço, meu sargento, com todo o respeito...
- Nem fora nem dentro, soldado... Vinte flexões por hesitar no que lhe disse!
Joaquim foi bem provado e torturado nas suas convicções por aquele sargento, mas a sua alma sacerdotal despertava quando prestava cuidados aos colega, se disponibilizava para a porta de armas e outros serviços de fim-de-semana, para permitir a precária dos companheiros e quando não amparou até à entrada do quartel, tombados pelo vinho. A dura vida de recruta não endurecera a seu coração e, terminado o seu tempo de serviço, resolveu retomar o caminho iniciado, até que subiu ao altar. primeiro como coadjutor numa paróquia longe da sua terra e dos seus amigos, durante dois anos. Nesse espaço de tempo, perdeu a sua mãe e depois o seu pai. Assumiu mais tarde uma paróquia e tornou-se conhecido de todos como sendo uma pessoa afável, atenciosa, caritativa e de um esmero pastoral exemplar.
Um dia participaram-lhe que, num dos montes que cercavam a paróquia, vivia uma senhora idosa e paralítica, presa ao seu leito e foi visitá-la: 
- Oh, Sr. Abade, como o senhor é bondoso... Vem de tão longe!...
- É meu dever, como Padre e como cristão, visitar os doentes! Como vai a senhora?
- Oh, Sr. Abade com estes oitenta e tais, presa nesta cama...
- Mas quem a sustenta? Não tem filhos?!
- Sustenta-me a caridade de quem cá vem. O meu único filho foi para o exército, era ele que me sustentava nesta velhice mas, de repente... deixei de ter notícias dele já lá vai uma meia dúzia de anos, a passar...
- Não desanime, pediremos a Deus para que ele volte!
- Oh, Sr. Abade, se um dia voltar já me encontrará morta. Não tenho que comer, a caridade de quem passa não sei quando vai durar... Já lá vão dois dias que não como nada... 
- Eu enviar-lhe-ei comida e prometo-lhe que, enquanto seu filho não vier, serei eu o seu filho e a senhora será a minha mãe. Mandarei alguém que cuide de si e lhe traga as refeições.
Desde aquele dia, o padre Joaquim foi realmente o filho daquela pobre velhinha, não lhe faltando com alimentação, higiene e cuidados de saúde e, ia visitá-la, confortá-la e levar-lhe o Viático. «Sacramento eucarístico administrado fora da igreja». Disse então para a criada num belo dia: 
- Gestrudes, não me lembra de alguma vez ter tomado qualquer refeição com aquela doente de quem me fez filho. Pois nem é tarde nem é cedo: hoje vou jantar com ela depois dos serviços paroquias. E que dia mais a propósito o de hoje, o dia de Natal e da família! Não hei-de eu jantar com a minha mãe adoptiva em noite tão santa e tão bela? A criada fez o jantar, colocou tudo numa cesta er lá foi com o bom do padre Joaquim até à pobre casa daquela viúva pobre e doente.
- Oh meu bom Jesus de Belém! Veio o Sr. Abade, veio jantar comigo?
- Feliz Natal, minha mãe! Não é dever de filho conceder à mãe uma ceia em noite santa?
- Oh meu Deus, que não mereço um filho sacerdote!
Posta a mesa pelo padre Joaquim, quando já jantavam o tradicional bacalhau com batatas e couves, depois de feita a oração da bênção e sob uma noite de céu estrelado, ouviram passos no exterior e a anciã perguntou:
- quem vem lá?
- Sou eu, minha mãe!
Enquanto aquela idosa segredava ao filho, que a abraçava, os sofrimentos, a fome e o abandono que passou e o facto de estar ali, bem nutrida e acolhida por aquele que a tornara por mãe e que estava com ela à mesa, o padre Joaquim não atinava no que via. Aquele filho era o sargento que tantas provações o tinha feito passar no seu tempo de recruta. Não menos espantado, aquele homem lançou-se aos pés do seu soldado, o salvador da sua ma~e, o seu irmão de adopção e, depois de lhe ter beijado, comovidamente, as suas mãos, sacerdotais disse:
Peço-lhe perdão, padre, mil vezes perdão!
Levantando-o, o padre Joaquim sorriu, para ele, abraçou-o e respondeu:
- Agora somos irmãos, porque temos a mesma ma~e! Feliz Natal, meu irmão!
Desde então, aquele homem não mais se separou da sua ma~e e, consequentemente, tornou-se um cristão fervoroso, recuperou os valores do Evangelho que aprendera no colo da sua mãe e abandonara com o tempo e, sobretudo, fez-se sacristão da paróquia, redimindo-se de tantos anos afastado de Deus.
E assim, em Noite Santa, uma lição enorme aqui nos fica: aquele que fora superior, irmanou-se aos seu soldado, a quem rejeitara e agora venerava, porque quem se humilha amando será elevado pelo amor e derramará à sua volta o Espírito do Natal.

Autor desconhecido
 














sábado, 5 de julho de 2014

Frederico Ozanam: Um olhar para os que sofrem

“A ciência das reformas sociais eficientes não se encontra nos livros nem nas tribunas das Assembleias, mas sim em subir as escadas dos Pobres (descer às favelas e avenidas), sentar-se à cabeceira de suas camas e sofrer com eles o frio e as doenças; levar o Pobre, através de nossa palavra, a conhecer as razões de seu próprio sofrimento”.
António Frederico Ozanam

A caridade organizada nas mãos de Frederico Ozanam e seus companheiros se “desclerizaliza” e se torna leiga e autónoma. Nem por isso se torna menos Igreja de Jesus Cristo.
A caridade os ensinou a voltarem seu olhar para os Pobres não somente através de esmolas. Diz Ozanam:
“Acreditamos em dois tipos de assistência: um que humilha aos assistidos e outro que os dignifica… A Assistência os dignifica quando une o pão que alimenta, a visita que consola, o conselho que ilumina, reunir forças para levantar o ânimo… Quando se trata o Pobre com respeito e não somente como um semelhante, senão como um superior, como a um enviado de Deus para provar nossa justiça e nossa caridade”.
Frederico Ozanam e seus amigos sabiam que a “esmola” não tem por objectivo organizar a questão social, mas que tem por objectivo ajudar a solucionar os problemas emergenciais dos Pobres. A assistência, a promoção e a libertação se complementam.
É este olhar compassivo para com os Pobres que “faz a diferença” na Sociedade de São Vicente de Paulo.
Olhar “mais além” das aparências. Ver os Pobres, com o “olhar” de Deus.
Vejamos outra frase de Frederico Ozanam:
“…Estas massas carinhosamente amadas pela Igreja, porque representam a pobreza que Deus ama e o trabalho que Deus abençoa. Vamos até este povo e ajudemos não somente com a esmola que imobiliza o homem, senão também lhes ajudando a criar suas próprias instituições que os façam melhores ao tornarem-se autónomos”.
Estes jovens da Sociedade de São Vicente de Paulo não criaram uma assistência burocrática, anónima e sem vida. Para eles o essencial no trabalho de caridade era estar face a face com o Pobre, o contacto pessoa a pessoa. Sem este olhar o espírito vicentino se perderia.
E uma vez, lançado este “olhar” sobre os Pobres, já não sabemos por onde seremos conduzidos. Pois a experiência nos mostra que não são nossos projectos que se concretizam e sim a vida do Pobre que dirige nossos passos e acções. O processo se inicia quando voltamos nosso olhar sobre o Pobre e realizamos o encontro.
Quando isto acontece também nos encontramos com Jesus Cristo vivo e sofredor e com as causas estruturais.
Autor: Joelson Cezar Sotem, CM