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Vida de Ozanam (II)
Mudança para Paris
Para tanta juventude,
era sublime. Concluído seu curso colegial em Lião, resolveu seu pai enviá-lo,
afinal, a Paris, para o Curso de Direito, visto não haver na sua cidade
Faculdade para essa formatura. A decisão não agradou a Ozanam, visto como não
pretendia as letras jurídicas e receava as tentações da “nova Babilónia” em que
se transformara a capital francesa, para onde acorriam reformadores e revolucionários,
juntamente com cientistas e gozadores da vida. Confiava em Deus e nos
ensinamentos maternos.
Para aquele jovem de 18 anos, educado em família cristã,
Paris se apresentava como “vasto cadáver ao qual se teria de amarrar, tão moço
e tão cheio de vida”. E, por isso, dizia, “Paris me deixa gelado, Paris me mata”
, ao sentir-se “no meio de uma multidão inepta e sensual”. Honesto e inocente,
receava a corrupção e a irreligião
Dominantes naquele “mundo pérfido”,
que chamavam Cidade Luz. Essas as primeiras impressões de Ozanam, vendo Paris.
Por indicação de velha amiga de sua
mãe, hospedou-se numa pensão ordinária, cujos hóspedes, tanto homens como
mulheres sem religião e sem educação, não guardavam conveniências e, sabendo-o
católico, dirigiam-lhe gracejos irreverentes, troçando por conservar ele o
costume de jejuar. Procurava consolar-se, com lembrança de sua mãe e muita
oração.
Felizmente encontrou no Padre Marduel,
constante amparo, conselheiro íntimo, servindo- lhe “de pai e mãe”; sem ele “teria
morrido de melancolia”.
A amizade com o destacado cientista Ampère
Visitando Lião,
Ampère, sábio católico, encontrou Ozanam, a quem externou admiração pelo seu
trabalho contra Saint-Simon, exigindo que, indo a Paris, o fosse ver .
Lembrando-se desse convite, foi ele ter com Ampère, que o recebeu com efusão.
Na conversa, Ozanam referiu-se ao desconforto de sua pensão, principalmente à irreligiosidade
reinante. Para seu espanto, o sábio, mostrando o quarto do filho em estudos na
Alemanha, ofereceu-lhe hospedagem até que este regressasse.
André-Maria Ampère
andava pelos 56 anos e já ocupava lugar destacado no mundo científico. Membro
do Instituto, professor de matemática da Escola politécnica e. de Física no
Colégio de França, admirado na Inglaterra, Alemanha, Suécia, Bélgica.
Era
o maior nome científico de seu país e do século. Apesar de grande fama era um
católico decidido e humilde, ajoelhando-se, rezando contrito na igreja, diante
do Santíssimo Sacramento, como o encontrou certa vez Ozanam.
O jovem, cheio de
saudades dos pais, encontrou na casa de Ampère agradável ambiente familiar.
Tendo perdido a esposa, o grande sábio era atendido pela irmã, consolado pela
filha Albina, orgulhando-se pelos triunfos do filho João-Jacques, que alcançou
renome nos meios literários.
A presença de Ozanam animava de certo modo a casa,
e, escrevendo ao pai, narrava como era bem tratado, ficando à vontade na mesa e
participando de palestras interessantes e instrutivas.
Graças à amizade de
Ampère conseguiu Ozanam frequentar o Instituto de França, consultando sua
maravilhosa biblioteca e conhecendo pessoas célebres. Uma das suas primeiras
aproximações foi Ballanche, bom católico, eminente literato, a quem se ligou
como a um bom mestre, embora fazendo reservas às suas profecias apocalípticas.
Apesar disso, as ideias de Belanche nele influíram, ao afirmar que, malgrado a
incredulidade, a Europa guardaria a fé e o Cristianismo não afrouxaria nem
desapareceria das nações.
O encontro com Chateaubriand
Ozanam aspirava ardentemente encontrar-se com
Chateaubriand, autor do “Génio do Cristianismo”. Trouxera carta do cônego de
Lião, padre Bonnevie. Encontrou-o quando regressava da missa. Afavelmente
acolhido, na conversa perguntou-lhe Chateaubriand se ia ao teatro. Ozanam
respondeu que prometera à mãe jamais frequentar teatro, tendo o escritor
concluído: “Siga o conselho de sua mãe. Você nada ganhará indo ao teatro e, antes,
teria muito a perder”. Isso lhe ficou na memória para sempre.
A convivência de
Ozanam nesse mundo de cientistas, sábios e filósofos era uma preparação para os
próximos voos que a jovem águia teria que desferir. A Sorbona o esperava, pois
era lá que iria desenrolar-se seu campo de batalha e alcançar suas vitórias. A
Sorbona, fundada em 1250 pelo padre Roberto Sorbon, capelão do rei S. Luís,
caíra nas mãos de adversários da Igreja. E a tarefa de enfrentá-los ia caber a
Ozanam.
A procura de companheiros cristãos na faculdade
Ozanam viera a Paris,
para fazer o Curso de Direito, por determinação paterna, Era preciso iniciar os
estudos, o que fez em meados de 1831, a eles dedicando-se inteiramente, não só
assistindo às aulas, mas redigindo as lições que acabava de ouvir. Além disso,
comparecia às conferências e debates entre advogados, procurando conhecer de
perto a prática da exacta aplicação das leis, fosse como defensor, fosse como
acusador, desenvolvendo com isso o seu talento oratório.
Mas Ozanam tinha
outras intenções na frequência assídua às aulas e cursos. Ele ansiava por
conquistar companheiros para uma tarefa toda especial. Desejava cercar-se de
colegas que sentissem e pensassem como ele no tocante aos ideais cristãos e
verificar como era “difícil reunir defensores em torno de uma bandeira”. Ele sabia
que existiam esses procurados companheiros e já encontrara mesmo jovens que
consagravam, embora isoladamente, os mesmos propósitos por ele acalentados. Precisava
reuni-los. Aparentemente faltavam a Ozanam qualidades de liderança. Não podia
contar com o prestígio da beleza nem com ar autoritário. Mas era a bondade em
pessoa, numa simplicidade que atraía simpatias. O que lhe dava mais destaque
era a sua vigorosa inteligência e a maneira de agradar quase espontânea.
Humilde por natureza, não avançava em intimidades, mas sabia despertar amizades
imperceptíveis. Essas qualidades lhe valeram as primeiras aproximações com
aqueles que iriam ser companheiros inseparáveis.
Como não podia deixar de
acontecer, foram estudantes lioneses os primeiros a participarem da amizade deOzanam,
começando pelo primo Pessonneaux, vindo a seguir Janmot, seu companheiro de
primeira comunhão, Velay, Jouteaux, Perriere e Chaurand, que iriam formar na
primeira Conferência de São Vicente de Paulo em Paris e depois em Lião. Ozanam
via neles aproximar-se a fonte para jorrar o amor, como da aproximação das nuvens
nascem raios. Mas ainda não era tempo.
O
início da amizade com Lallier
A hora das grandes batalhas ia-se aproximando.
Um dia, no Colégio de França, o professor Letrone aproveitou uma aula de
egiptologia para achincalhar a Bíblia. Ozanam reprovava as injúrias com
significativos movimentos de cabeça, tendo notado que outro estudante fazia o
mesmo.
Finda a aula, tentou encontrá-lo, sem resultado. Noutro dia, aquele estudante
viu Ozanam num debate com outros colegas, dele aproximou-se. Cumprimentou-o,
sendo correspondido, logo travando amizade: Era Lallier.
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