«Somos chamados ao trabalho desde a nossa criação. Ajudar "pessoas em situação de pobreza", deve ser sempre um remédio provisório. O verdadeiro objectivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho» Laudato Si: página 88.

domingo, 20 de maio de 2018

O homem e a mulher perante as crises económicas e pessoais!

Neste domingo de 20 maio, dia de descanso para os católicos e mesmo desanimado com algumas pessoas, pela seu trilho de caminho escolhido que perante Deus não será o melhor e muito mesmo será aos olhos do homens mas, esta é cego, não poderei deixar partilhar este tema interessante. Pode e dá algumas pistas de reflexão, como podemos trilhar as avenidas das nossa ruas, das nossas casas com muitos "degraus sujos, desalinhados pelos tempos". Será que conseguimos subir até ao ponto mais alto com perseverança até um dia?  O melhor, é ler o texto.

Diante da crise actual, “buscar a justiça de Deus” 

Uma reflexão semanal com Ozanam


O primeiro dever dos cristãos é não ter medo e o segundo, não assustar os outros. Pelo contrário, tranquilizar os espíritos perturbados, fazendo-os considerar a crise actual como uma tempestade que não pode durar muito tempo. A providência está lá e nunca se viu que esses choques financeiros que perturbam a ordem material das sociedades tenham durado mais do que alguns meses. Não se preocupe muito com o dia seguinte e não diga “o que vamos comer e o que vestiremos?” Tenhamos coragem, procuremos a justiça de Deus e o bem da Pátria e o resto nos será dado por acréscimo.

 Frederico Ozanam, carta a seu irmão, Pe. Alphonse Ozanam, 6 de março de 1848


Reflexão:


  1. Este texto parece escrito para a nossa época. Como nos tempos de Frederico, há mais de 150 anos, nossa sociedade atual passa por um período turbulento de crise e guerras que nos desencorajam. Não há dia em que notícias odiosas não apareçam a esse respeito, nos jornais e nas notícias.
  2. O contexto desta carta é o seguinte: Frederico está preocupado com os problemas decorrentes da recém-nascida revolução industrial, que afetou, muito particularmente, o sector marginal da sociedade: o proletariado. Com uma visão do futuro, ele levantou a necessidade de reestruturar novos conceitos de trabalho, salários, associativismo do trabalhador … Poderíamos cair no perigo de ver este homem como um “programador de ideias” sem mais. Mas não: ele buscou soluções concretas, humanas e cristãs em favor dos oprimidos, dos trabalhadores e dos pobres. Seguindo seu exemplo, hoje podemos tomá-lo como modelo, levando em consideração, como ele fez, a situação histórica do momento em que vivemos. Nem melhor nem pior, mas com uma ampla plataforma para gastar-nos e se desgastar em favor da construção do Reino de Deus.
  3. Frederico diz aos cristãos que nosso primeiro e segundo dever, nessas situações, é “não ter medo e não assustar os outros”: manter a calma e ajudar os outros a viver a situação com esperança, “como uma tempestade que não pode durar muito tempo”. No entanto, a esperança cristã de Frederico não é estática ou providencial. Ele sabe que para resolver os problemas, temos de começar a trabalhar: “tenhamos coragem, procuremos a justiça de Deus”… Os vicentinos sabem o que é essa justiça: estar ao lado dos pobres, dos quais a maioria está sofrendo os movimentos convulsivos económicos e de poder em nosso mundo.
  4. No final de 2013, o próprio Papa Francisco exortou as ordens religiosas a acolher refugiados em conventos vazios: “Conventos e monastérios vazios não devem ser convertidos em hotéis pela Igreja para ganhar dinheiro. (As construções) não são nossas, elas são para a carne de Cristo, que é o que os refugiados são”, disse o papa durante uma visita a um centro de recepção na capital italiana. “Certamente, isso não é algo simples, é preciso critério, responsabilidade, mas também coragem, temos feito muito [para os refugiados], mas talvez somos chamados a fazer mais”, acrescentou. O Papa também disse que “a caridade que deixa os pobres na mesma situação não é suficiente, […] não basta dar um sanduíche, […] a verdadeira misericórdia exige justiça, quer que os pobres encontrem o caminho para não sê-lo mais”.

Questões para o diálogo:

  1. Qual é a minha atitude em relação à situação de necessidade causada pela actual crise? Vivo “sem medo e sem susto”, como Frederico sugere?
  2. Eu me preocupo com a situação de meus pessoas próximas, vizinhos, parentes, de todas as pessoas pobres ao meu redor?
  3. Tenho esperança de que a situação melhore para todos? Como meu trabalho é aliviar as necessidades daqueles que estão sofrendo mais com esta situação de desamparo?
  4. Eu sigo as notícias que me informam dessas situações? Eu denuncio injustiça?
  5. Como interpreto o texto anterior do Papa Francisco? Conheço iniciativas semelhantes no meu ambiente? E aqueles de nós que são seculares, podemos ajudar de alguma forma a tornar o pedido do Papa uma realidade? É apenas uma mensagem para os consagrados, ou envolve todos nós?

segunda-feira, 14 de maio de 2018

A final o que fazer?


Antes de transcrever na integra, a 3.ª número das Crónicas Vicentinas do Pres do CGI eu, sinto que tenho de lançar um pensamento aos confrades, a que todos saiam da sua zona de conforto e pensemos um pouco: “a final o que fazemos”, nossos confrades na forma que colocam na sua metodologia a prática de caridade na Sociedade nas respostas que vamos dando?
Existe Conferências que fazem o seu trabalho na base da entrega de bens recebidos pelo B.A., ou outras situações de socorro e não sabemos notícias de que: A conferencia tal, ajudou, colaborou com os assistidos na promoção pessoal, no libertar da dependência da saca, do vale na forma de que os assistidos passaram da condição de pedinte para uma situação de oferta, não tenho conhecimento. Tenho pedido para que às conferências nas suas prestações de contas ao fim do ano escrevam no seu relatório final as atividades de uma forma geral, como tem funcionado ou funcionaram no ano terminado. Pensam: É para estatísticas […] Há isso é para os países em subdesenvolvimento […] mas, cá dentro, nem isso acontece na informação de divisão para efeitos de estatísticas, pois há conferências que são parcos em respostas.
Faço a pergunta para quem não percebeu:
Será que nos sentimos satisfeitos com a assistência da saca, do vale e, chega à conferência informando que em conjunto com outros ou sozinhos: ajudaram fulano e beltrano a estudar, arranjar trabalho, a deixar de viver na rua, a pedir? Já não falo nas estruturas ligadas à igreja pois em alguns casos também estão numa zona de conforto […] e vivem a paredes meias com a realidade o “Pobre faz da rua o seu lar”.
Ao título acima, poderia colocar como abriria esta crónica, mas prefiro deixar a quem tem direito de explicar a forma de AGIR; assim à pergunta ou desafio que lancei dará o nosso 16 presidente do CGI Renato Lima nas sua 3ª Crónica Vicentina. Espero, que cada um encontre a sua resposta e se tem duvidas reze a Deus e peça-lhe ajuda…


Só existe mudança com mobilização.


Uma das propostas mais interessantes que a Família Vicentina já fez aos ramos que dela fazem parte (como a Sociedade São Vicente de Paulo) é o Projeto “Mudança Sistémica” ou “Mudança de Estruturas”. Essa iniciativa pretende romper a tendência de pobreza e promover, efetivamente, as famílias mais humildes de todo o planeta. Algumas Conferências Vicentinas que experimentaram e praticaram essas ideias viram os inúmeros benefícios gerados para as pessoas atendidas.
Mas de nada adianta propor um projeto revolucionário como a “Mudança de Estruturas” se duas condições não ocorrerem simultaneamente. A primeira passa pela transformação pessoas dos confrades, que precisam também “mudar” em sua forma de enxergar a pobreza e “mudar” as estratégias de reduzi-la. A segunda condição tem a ver com a mobilização social para a verdadeira mudança. Só existe mudança se houver forte mobilização social, tanto dos Vicentinos quanto dos assistidos.
Se os assistidos não se mobilizarem, serão eternamente socorridos e ficarão “dependentes das doações de alimentos, roupas e utensílios feitos, arranjados pelas Conferências”. Por outro lado, se os vicentinos não se mobilizarem, a assistência prestada aos mais carentes se resumirá a uma mera entrega de alimentos, desprovida de estímulo, vontade e garra para vencer na vida. Sem mobilização popular, a caridade junto aos mais necessitados, às pessoas em situação de pobreza torna-se quase uma ação filantrópica; benemérita com certeza, mas muito frágil em suas estruturas.
Nesta linha de análise, «diz Renato Lima», também podemos afirmar que não existe “sociedade saudável” quando há miséria ao nosso redor. Afirma ainda com um sentido muito critico: De que adianta termos “Ilhas de desenvolvimento” se, ao nosso lado, um irmão está sofrendo ou dorme debaixo de papelões nas noites frias das nossas cidades? Uma sociedade saudável – conceito moderno que vem sendo utilizado pelos organismos internacionais que atuam no campo da superação da pobreza – é aquela em que a desigualdade social é reduzida e as oportunidades são para todos.
Mudar a sociedade em que vivemos pode parecer uma tarefa complexa e, acima de tudo, muito além de nossas forças. Mas é responsabilidade de todo cidadão, ainda mais se for cristão e vicentino, melhorar esse mundo injusto e deplorável em que vivemos. Se não, de que adianta participarmos de uma Conferência Vicentina? Somos vicentinos e vicentinas para sermos “soldados de Cristo” na construção de um mundo mais fraterno e melhor ou apenas para agradar nossa família, o sacerdote, o bispo ou os amigos?
É por isso que não me canso “o 16 presidente do CGI” de defender, em minhas crónicas, que o trabalho excecional desempenhando pelas Conferências vicentinas precisa ser modernizado no sentido de agregar novos elementos, como a participação popular e o engajamento da sociedade nas ações que realizamos na comunidade. Doar cestos básicos a quem precisa, qualquer pessoa pode fazer, até um ateu de boa vontade; mas «doar-se a si próprio», de tal maneira, a ponto de indignar-se com a exclusão social e colocar a “mão na massa” para reverter tendências, isso é para poucos! […]
Portanto, é preciso que as nossas Conferências saiam da rotina, da zona de conforto […] e busquem um novo olhar sobre a atuação implementada durante as visitas domiciliárias e também na gestão das obras sociais. Podemos fazer muito mais, até com menos dinheiro, (já me disse alguém; que não seja por falta de dinheiro que não se faça Obras), se mudarmos a postura e incorporarmos a verdadeira dimensão da caridade, que envolve, acima de tudo, mobilização. Recordemos das passagens bíblicas em que os enfermos, de alguma maneira, mobilizaram-se para ver ou tocar em Jesus, pois sabiam que desta maneira seriam salvos e curados. E nós, mobilizamo-nos para a prática da caridade com eficiência?

Crónicas Vicentinas do 16º presidente Renato Lima.