«Somos chamados ao trabalho desde a nossa criação. Ajudar "pessoas em situação de pobreza", deve ser sempre um remédio provisório. O verdadeiro objectivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho» Laudato Si: página 88.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Modelo Família Vicentina - Luis de Mello Breyner

Luis de Mello Breyner
(1807 - 1876)

"O Homem-Conde Sobral" 
O Primeiro Presidente da Conferência de São Luis-Portugal.

Sendo o terceiro filho, Luís de Mello Breyner, nascido a 26 Outubro 1807 e falecido a 01 Setembro 1876, foi o segundo Conde de Sobral pelo seu casamento com D.Adelaide Braamcamp Sobral de Almeida Castelo Branco, de Narbonne-Lara. Casaram em 06 de Outubro 1834. Foi Grã-Cruz da Ordem de Cristo, Comendador de Torre e Espada, Cavaleiro de São Bento de Aviz,. Condecorado com a medalha de Oiro das Campanhas de Liberdade e com a de Valor, Bons Serviços e Comportamento exemplar, Par do Reino, coronel do exército, ajudante de campo do prícipe D. Augusto de Leuchtenberg, primeiro marido de D. Maria II e depois de D.Fernando de Saxe Coburgo Goth, segundo marido de mesma Rainha.
  Foi inicialmente educado no Colégio dos Pobres do Espírito Santo e, em 29 Novembro 1826, assentou praça em cavalaria 4.
  Em 1833, recebia a Torre e Espada. O Rei D. Fernando, a quem serviu vários anos, tinha por ele a maior estima.
  Afastou-se da política, dedicando-se ao melhoramento das sua propriedades agrícolas, considerando isso o melhor que podia fazer à Pátria e àqueles que aí trabalhavam.
  Em 17 Maio 1851 aceitou o cargo de Governador Civil de Lisboa, cargo que exerceu até 24 Agosto 1852, data em que pediu a demissão. A Grã-Cruz da Ordem de Cristo foi-lhe então concedida pelos trabalhos que aí exerceu. Voltou a ser Governador Covil de Lisboa de 28 Agosto 1856 a 02 Agosto 1858, tendo uma parte muito activa no reinado de D. Pedro V, se deram as grandes epidemias que assolaram Lisboa.

O Presidente da Conferência

  Não se absorvia, porém, tão completamente o Conde de Sbral nos negócios da sua casa que lhe não sobrasse tempo para se dedicar a outros misteres. Os deveres da caridade nunca o reclamaram debalde. Era o servo dos pobres, dos aflitos, dos desprotegidos e valia-lhes sempre, em todas as ocasiões, com o seu dinheiro, com os seus conselhos, com o seu préstimo. A pequena mesada que recebia (e nisso foi sempre escrupuloso até ao excesso) era toda despendida no favorecimento dos necessitados. Muitas vezes se privou alguns cómodos de vida, para não privar a outrem de algum socorro. Respeitava a probreza e, para a servir, largava tudo, como se tudo fora inferior a esta dignidade que é tão eminente, no dizer de Bossuet. Todos os dias o procuravam bastantes pessoas, para lhe pedirem esmola umas, outras para lhe pedirem pareceres e conselhos, que esmolas também são e, das que mais devemos agradecer.Dedicava as horas da manhã a este piedoso ofício e dele não largava mão até a todos ter despachado. Só depois da sua morte, é que pode saber-se a extensão e valor dos seus benefícios, tão rigoroso era o segredo que sobre eles guardava e mandava guardar aos interessados.
  À sua iniciativa se deveu a organização em Portugal das Conferências de São Vicente de Paulo, esse prodigioso instrumento de caridade para o corpo e para a alma. Foi o primeiro presidente da primeira Conferência portuguesa quis-lhe com o entranhado carinho de pai. Não se poupou a esforços para que na nossa pátria se aclimatasse esta formosa árvore, que tão abençoados frutos tem produzido onde se radicou. Trabalhou desveladamente para este fim. Pregava com a palavra e com o exemplo.
Nos começos pôde congratular-se que lograria o seu intento. Aumentava o pequeno núcleo dos primeiros dias, cresciam os bens que da Conferência instituída, começava o povo a amá-la e a respeitá-la. Por esta época apareceu a triste questão das irmãs de caridade. Tanto bastou para arruinar pela base os esforços do Conde. A Conferência ornava-se com o nome de São Luís; era espiritualmente dirigida pelos padres lazaristas; congregava-se no edifício de São Luís: nesta Igreja celebrava as sua festas. Não atendeu a mais nada a opinião que então dominava. Envolveu na mesma impopularidade a Conferência de São Vicente de Paulo e a sociedade secular que, sob a sua protecção e inspirando-se do espírito de caridade, curava de aliviar as misérias do corpo e de minorar os sofrimentos da alma. A Conferência é uma criação dos lazaristas, diziam os seus inimigos, é o modo disfarçado de nos impor as Filhas da Caridade, é um perigo para as instituições liberais, não deve tolerar-se. E, de facto, nunca pôde conseguir-se que ela tivesse existência legal.
  Trite cegueira foi esta e muito para lastimar. Os acrisolados defensores da liberdade mostravam-se mais descrentes nela do que os seus inimigos. Julgavam ver perigos no exercício de um direito que é princípio de liberdade. Esta é felizmente robusta e não sucumbiu aos repetidos golpes com que lhe cavavam a sepultura os que mais clamavam que a estavam consolidando. Os verdadeiros liberias curvaram a cabeça e deixaram passar a onda. Não havia que discutir. Na verdade era irrisório supor que o regime liberal corria perigo porque alguns homens se juntavam para rezar, coligir esmolas entre si, visitar os pobres, consolá-los, ensinar-lhes os seus deveres de cristãos e minorar-lhes as misérias. Neste programa estava a defesa da Conferência de São Vicente. O conde de Sobral sentia pois a sua consciência de liberal perfeitamente tranquila, ao passo que tinha tão intimamente satisfeita a sua consciência de católico. Não se enganou, porém, acerca da Conferência, nem conservou a ilusão que a principio tivera de nacionalizar esta instituição. Contudo, nem abandonou nem sequer afouxou o seu zelo. Serviu a Conferência enquanto ele durou. Dissolvida por falta de membros, foi o último a retirar-se, como o comandante de um navio é o último a sair do seu bordo, quando o naufrágio exige o abandono do barco.
  Não era, pois, tão somente teórico o catolicismo do conde. Respeitava a religião e seguia-lhes os preceitos, Deu várias provas ao longo dos anos seguinte, participava em muitas ocasiões angariando fundos. O seu bom carácter e severidade dos seus princípios muitas vezes era escolhido para conselheiro ou arbitro nas questões de defesa de famílias. Foram frequentes os casos em que o conde foi chamado a dar o seu parecer em assuntos que podia perigar a honra de alguém. Era consultado como se fora o juíz que melhor conhecesse os preceitos que regulam tão melindrosas e delicados casos. O Conde de Sobral na sua intimidade da vida de todos os dias, era simples, franco e de bom trato, modesto no traje. Para os amigos tinha o coração sempre aberto. Para ele, a amizade não era palavra vâ; era um sentimento verdadeiro que ele sabia expressar em actos, até com sacrifício próprio, quando assim era necessário.
  Falava sempre com a máxima reserva e era neste ponto inexcedível a sua prudência. Ninguém conservava melhor um segredo. Fugia de ouvir confidências, mas tinha a rara e difícil qualidade de as guardar para si, quando porventura lhas confiavam.
  Raras vezes se deixava arrebatar da ira e nunca por motivos fúteis. Havia perfeitamente domado o seu génio naturalmente fogoso. Escravizava o temperamento em vez de ser por ele escravizado. Diante de uma acção mesquinha ou vil, dava largas à sua cólera; era tremendo quando fulminava a injustiça ou quando lançava em rosto a um infame toda a abjecção da sua conduta. Quando sucedia exceder-se sem motivo plausível e que satisfizesse a sua consciência, penitenciava-se espontaneamente e não se envergonhava de pedir perdão a quem julgasse haver ofendido, fosse qual fosse a posição da pessoa perante quem se humilhava.
  ... Terminados os piedosos actos assombrou-se de novo esta inteligência há pouco ainda tão clara e rebusta e só voltou a conhecer-se na presença de Deus e à luz do eterno dia, que para ele despontou em 11 de Setembro de 1863.
  Entre os papéis do Conde de Sobral encontrou-se um breve escrito e que narra, com a sua habitual concisão e singeleza, a doença e morte de seu filho.
  Luis de Mello Breyner nunca fora mundano no sentido vulgar da palavra, nunca fora dado a divertimentos estouvados, mas como homem de bom senso que era, não fugia aos deveres que a posição impõe e as relações de amizade criam. O Conde nunca soubera o que eram respeitos humanos. toda a sua vida cumprira franca e abertamente os seus deveres religiosos, nunca escondera os seus sentimentos de verdadeiro cristão, nem para comprazer com certas ideia hoje tão vulgares; fazia mistério da sua fé. A Sua dedicação pelo Sumo Pontífice; a sua ardente simpatia pela sociedade São Vicente de Paulo; o zelo com que olhava pelo culto do Santíssimo Sacramento na freguesia de Santa Isabel; a devoção a Nossa Senhora eram verdadeiramente edificantes.
  Era seu confessor o Padre Miel, amigo a quem desvendou os mistérios da sua vida, as faltas e fraquezas a que, como homem, estivera sujeito. Antes da morte, mas quando já estava muito mal, foi visitado pelo Núncio Apostólico que lhe levou uma bênção especial do Santo Padre. Oito vezes se lhe rezavam as orações dos agonizantes. Em todas elas, menos na última, seguiu atentamente todas as palavras que em volta dele se proferiam.
         




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