Governo
francês faz apelo aos vicentinos para que socorram as famílias desamparadas
pela revolução.
A revolução, com a pilhagem e
os incêndios, desencadeara a miséria e a fome entre a, população pobre. O Governo
fez um apelo aos vicentinos para que se ocupassem dos socorros às numerosas
famílias desamparadas, “levando-lhes auxílios para salvá-las da fome e boas
palavras que lhes acalmassem o furor e as afastassem do desespero”. Embora
advertidos de que poderiam ser recebidas as balas, centenas de vicentinos se
apresentaram, sendo desde logo atendidas 2.500 famílias.
A acção dos vicentinos havia
sido muito proveitosa, tanto no tocante à assistência material como moral. O representante
do Governo, Dr. Trelat, conhecido anticlerical, assim manifestou seu
agradecimento: “Os vicentinos mataram a fome dos que agonizavam na miséria,
acalmaram suas almas irritadas, fizeram renovar a confiança e a esperança nos
seus corações cheios de cólera e desespero”. Outro angustioso apelo surgiria: A
cólera se abatera sobre Paris, sendo os vicentinos convocados para assistir os
pestosos.
A luta contra a cólera abre portas para a religião
A bravura cristã dos
vicentinos durante a epidemia de cólera foi espectacular. Como disse Ozanam,
eles enfrentaram “um povo dizimado, uma administração desorganizada, uma ciência
apavorada. No entanto, com grande sabedoria, sem comparar sua fraqueza à
grandeza do perigo e das necessidades, colocados à disposição das Irmãs de
Caridade e das ambulâncias médicas, cuidaram de mais de dois mil doentes em
dois meses, três quartos dos quais escaparam; os que morreram receberam os
sacramentos da Igreja”.
Passada a tormenta, milhares
de famílias recobravam seus entes queridos curados, externando sua admiração e
reconhecimento por aqueles jovens vicentinos, que, contrariando seus parentes,
tudo deixavam para cuidar dos pestosos. E não ficou só nisso a caridade
vicentina: ofereceu e conseguiu lares para milhares de órfãos, cujos pais a
peste havia tragado. E o melhor é que a fé renascia sob o manto da Caridade, e
a Religião via abertas portas antes fechadas.
Ozanam desenvolve publicações para formação social e
religiosa
No turbilhão de todos aqueles
acontecimentos, Ozanam ainda achava tempo para trabalhar no campo da imprensa,
fazenda circular em 15 de abril de 1848, o jornal ERA NOVA, secundado pelos
padres Lacordaire e Maret. Propunha-se defender a Religião, a República
nascente e a Liberdade. E afirmava que “não havendo mais o constrangimento das
trincheiras nas ruas, iria apresentar verdades que deixaram de ser perigosas quando
antes eram utilizadas apenas pelos maus, para enfeitar seus fuzis nas
barricadas”.
O ano de 1848 exigira de
Ozanam trabalhos os mais árduos, tanto no campo material como no intelectual. Dirigindo
as actividades da Sociedade de São Vicente de Paulo, enfrentara a assistência a
200 mil desempregados, aos famintos, aos pestosos. Desenvolvia publicações populares
para formação social e religiosa e se esforçava para multiplicar conferências
tanto na França como no estrangeiro. A ERA NOVA tomava “todo o tempo que
sobrava dos exames”. Ozanam não desperdiçava tempo.
O Partido da Confiança
A pretensão de Ozanam era
assegurar “à Igreja lugar no triunfo da Democracia, chegando mesmo a criar um movimento
chamado Partido da Confiança. Como tal pretensão seria mais acessível com
representantes na Assembleia, o nome de Ozanam foi lembrado. Ele recusou,
alegando não ser homem de acção nem de comícios.
Mas, de Lião, veio um apelo
patético, e Ozanam acabou aquiescendo. Isto nas vésperas do pleito, obtendo
ainda 16 mil votos, insuficientes, porém, para eleger-se.
Ozanam encerra as actividades do Jornal Era Nova
Era infalível que as directrizes
apontadas na ERA NOVA descontentariam muitos católicos. O revide partiu do órgão
católico UNIVERSO, dirigido pelo eminente batalhador, mas ferrenho tradicionalista
Luis Veillot, acusando Ozanam de tomar falsos rumos. Chamava a ERA NOVA de
“Erro Novo”.
Com seu jornal, abençoado,
aliás pelo Arcebispo, Ozanam desejava apenas unir os católicos. Daí preferiu
fechar a folha. em Abril de 1849, declarando: “entre cristãos o mais prudente é
não odiar por questões tão controvertidas”.
Sem comentários:
Enviar um comentário