Defensor da
democracia e dos direitos trabalhistas
Nas épocas de
agitação entre os homens, Deus suscita iluminados que apontam meios para uma
reforma de costumes. Ozanam foi designado pela Providência para advertir
transviados e ajudar os necessitados de amparo. Como acontece com todos os
profetas, não foi compreendido. Quando ele afirmava que, além da esmola,
obrigação de todos, o povo precisava de instituições que o tornassem melhor, o
que se conseguiria com a introdução da democracia, muitos viam nele um
agitador.
O pensamento de
Ozanam, exposto em seus escritos, convence que ele, possuía a visão do futuro.
Antevia os acontecimentos. “Hão de surgir novos céus e novas terras” e “diante
da realidade, o primeiro dever do cristão é não atemorizar-se, e, o segundo,
não atemorizar os outros. Perante as crises políticas e acima delas está a Providência”.
“Aprendi da História que a Democracia é o termo natural do progresso político,
deixando assegurada a liberdade da Igreja”.
A presença de Ozanam
junto às classes desprotegidas nele desenvolvia elevado senso social. E do
apostolado da Caridade ao apostolado social não houve quase intervalo. Como
Professor de Direito Comercial penetrou fundo no problema da vida operária,
apontando soluções depois aproveitadas na encíclica RERUM NOVARUM, de Leão
XIII. Foi ele que esclareceu o “justo salário”, afirmando haver exploração
quando a retribuição real do assalariado é inferior às suas necessidades
normais.
Ozanam já afirmava em
1836, que “a questão que divide os homens é uma questão social, restando saber
se a sociedade será a exploração em proveito dos fortes ou uma consagração para
amparar os fracos. Há os que possuem demais e os que nada possuem. Estes
acabarão tomando aquilo que lhes estão negando. Uma terrível luta se prepara
entre essas duas classes: de um lado o poder da riqueza, do outro o poder do
desespero”.
Momentos turbulentos
na Europa
A humanidade vivia
angustiada. Revoluções políticas, desordens sociais, lutas de classes levaram à
anarquia vários países. Ozanam convocava os cristãos para se colocarem entre os
dois campos em luta, campos por ele apontados desde 1836. Os católicos não lhe
deram ouvidos. Preferiram permanecer insensíveis, esquecendo os oprimidos. E o
resultado foi o Manifesto Comunista de Karl Marx, lançado em fevereiro de 1848.
Não quiseram ouvir o arauto da Igreja, iriam sofrer os golpes dos comunistas.
Com a revolução
republicana de 1848, viram-se os vicentinos envolvidos na luta sangrenta,
procurando defender a Democracia nascente, que estava sendo ameaçada pelos
aproveitadores da situação, desejosos de transformar o movimento em intentona
comunista. Ozanam, que sempre defendera os operários, explorados pela burguesia
capitalista, procurou colocar-se entre os dois campos, como ele sempre
aconselhara, a fim de afastar o perigo vermelho e atrair os transviados para o
bom caminho.
Novo presidente do
Conselho Geral é ferido gravemente em combate
A direcção da
Sociedade de São Vicente de Paulo acabara de receber novo Presidente Geral.
Gossin renunciara o cargo por motivo de doença grave, sendo eleito em 14 de Fevereiro
de 1848 o confrade Adolpho Baudon, de 28 anos, “jovem, activo, dedicado às
obras”. Para defender a Democracia, sob os ataques dos vermelhos, Baudon alistou-se
na Guarda Nacional, o que também fez Ozanam; enquanto combatia bravamente numa
posição
avançada, Baudon foi
gravemente ferido na perna.
A participação dos
vicentinos na refrega sangrenta justificava-se pelo desejo de atrair para a
Igreja as simpatias dos republicanos. Isso foi alcançado, com a posterior
revogação de todas as leis que entravavam as actividades religiosas. Mas custou
o sacrifício de muitas vidas de vicentinos, a invalidez de Baudon, que ficou
coxo, e, pior de tudo, a morte do grande Arcebispo D. Affre, ferido a bala,
enquanto, tentava a pacificação entre os combatentes.
A morte de Dom Affre
trouxe paz aos franceses
Quando maior era a
luta nas ruas de Paris, resolveu Ozanam pedir a intervenção do Arcebispo, D.
Affre, como pacificador. Este aceitou prontamente, apesar dos perigos da
empresa.
Ozanam quis
acompanhá-lo, mas ele o dissuadiu, pois estava fardado. Antecedido de um
vicentino, com a bandeira branca, o Arcebispo foi bem recebido pelos rebeldes.
E já se tinha por conseguida a paz, quando um tiro, vindo de longe, o feriu de
morte.
Todos lamentavam e
condenavam a dolorosa ocorrência, fruto de inominável traição. O Arcebispo
enfrentou o desastre com santa calma, dizendo que o Pastor dava a vida pelas
suas ovelhas, e esperava que o seu sangue fosse o último a ser derramado.
Faleceu assistido
pelo jovem Carlos, médico, irmão de Ozanam. Os vicentinos choraram a morte do
Arcebispo, seu grande amigo e protector. Como ele previra, o sacrifício de sua
vida trouxe a paz aos franceses.
Ozanam,
vice-presidente do Conselho Geral, faz circular o Boletim da Sociedade
O grave ferimento
sofrido por Baudon quase que o fez perder a perna que ele, apesar de horríveis
sofrimentos, não permitiu amputassem. Levou, seis meses para relativo
estabelecimento, ficando aleijado e suportando padecimentos intermitentes. As
sessões do Conselho Geral realizavam-se na residência dele.
Enquanto isso,
Ozanam, Vice-Presidente, assumia todos os encargos exteriores fazendo circular,
pela primeira vez, em 15 de Julho de 1848, o BOLETIM da Sociedade, até agora
espalhado pelo mundo inteiro.
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