De volta à
Paris, de volta ao combate à irreligiosidade
Paris tinha, agora, para
Ozanam “gosto de exílio”. Além da ausência da noiva, encarava a perspectiva da
estreia como Professor da Sorbona, onde estivera como aluno apenas há seis anos
atrás. Hospedara-se em casa de Bailly, onde era tratado como filho. Enquanto
não iniciava o Curso passava o tempo visitando amigos, escrevendo para
importantes jornais e preparando a primeira aula com afinco. Dedicava-se também
à Sociedade de São Vicente de Paulo.
Bailly queria aproveitá-lo
para desenvolver maiores esforços na direcção da obra, especialmente no funcionamento
do Conselho Geral, onde Baudon, com seus 21 anos, substituía Lallier. Oitenta
conferências floresciam em 48 cidades de 38 Dioceses, com as bênçãos da Santa
Sé e o paternal apoio dos Bispos. Estabeleceram-se delimitações entre o
Conselho Geral e os Particulares. E Ozanam, ante a desagregação de tantas
coisas, destaca essas obras de Caridade; sobretudo o respeito à Religião.
Não é que tivessem arrefecido
as investidas contra a Igreja. O sansimonismo voltara a ser ensinado no Colégio
de França, professores anticatólicos recebiam medalhas e eram autorizados
cursos populares para reanimar ódios desaparecidos. Ozanam, porém retornara à
luta, inquieto mas não desencorajado, e a Sorbona passou a ter um Curso de
Catolicismo dentro de um Programa de História, convertendo mais descrentes do
que numerosos sermões, como disse um dos ouvintes em carta ao jovem mestre.
A estreia como
professor
No dia 1º de Janeiro de 1841
ocupou a cátedra de Literatura Estrangeira, na Sorbona, como suplente, um jovem
professor de 28 anos, pálido e vacilante, defronte de uma plateia de estudantes,
professores e amigos. Era a estreia de Ozanam. Começou claudicante, nervoso,
temeroso. Mas inflamou-se, entusiasmou-se e, entre palmas, terminou abraçado
pelos presentes, que o felicitavam pela aula magnífica. A noiva, de longe,
participava do triunfo, por ela atribuído a muita oração.
Ozanam temia que o grande
auditório da estreia ficasse reduzido no correr das aulas. Mas, durante todo o Curso,
a assistência permaneceu fiel, superlotando o anfiteatro. Era fato realmente
novo, que um rapaz de 28 anos ali estreasse como mestre e como mestre fosse
ouvido. Os católicos vibravam. Os descrentes se sentiam dominados por aquela
eloquência. O Ministro o felicitava e grandes jornais mandavam estenografar as
lições. Escrevendo à noiva, atribuía tanta glória a orações dela.
O casamento de
Ozanam e Amélia
Ozanam e Amélia uniram-se pelo
matrimónio no dia 23 de Julho de 1841, com o advento das férias na Sorbona. O
noivo completara 28 anos e a noiva 21. O celebrante foi o irmão de Ozanam. Este,
em carta a Lallier, narrou a cerimónia e seus sentimentos: “Eu sentia descer
sobre mim as palavras consagradas”. “Ao meu lado, uma jovem de branco, velada e
piedosa como um anjo”. Não se podia ser mais amoroso.
Após o casamento, a que
assistiram numerosos vicentinos, teve início a lua de mel, através da. Itália.
Ozanam declarava-se grandemente feliz, e dizia compreender o céu, acentuando:
“Estou completamente iluminado de felicidade interior”. Em Roma foi o casal
recebido pelo Papa Gregório XVI, que os fez sentar junto a ele, dizendo: “Vocês
são meus filhos, deixemos a etiqueta de lado e vamos conversar”. Em Dezembro o
jovem par chegou a Paris, onde se instalou.
De volta da
lua de mel Ozanam encanta mestres e alunos
Retomando Ozanam, em Janeiro
de 1842, suas aulas na Sorbona, nas quais iria desenvolver quase toda a história
da literatura, disso aproveitava-se para um reencontro do espírito filosófico
com o espírito católico. Ele fazia de suas aulas uma “missão sagrada” e não
dava início a elas sem ajoelhar-se e recorrer ao Espírito Santo. Os alunos
ficavam vibrando com suas lições e o acompanhavam após as aulas num verdadeiro
cortejo de aplausos.
Ozanam impunha-se uma aura de
grandeza intelectual e moral. Frequentavam suas aulas muitos professores, jornalistas
e homens de letras. Diziam que “tinha o fogo sagrado”. Sua convicção interior
“convence e comove” .O célebre Renan afirmava: “Sempre saí de suas aulas mais
forte e mais decidido a melhorar”. E repetia mais tarde: “Como nós o
amávamos!”. Lamartine afirmava “haver em torno de Ozanam uma atmosfera de
ternura pelos homens”. “Era um apóstolo da Verdade”.
Ao preferir ser professor
substituto em Paris, desprezando segura situação confortável em Lião, Ozanam e esposa
mantinham vida modesta. O director do célebre Colégio Stanislaw, Padre Graty,
convidou-o para leccionar ali com boa remuneração. Sua passagem naquele colégio
foi memorável. Dezoito meses durou seu curso, mas deixou tal impressão nos
alunos que eles jamais esqueceram. Nunca um professor, na opinião deles, obteve
tanta atenção, que significava caloroso aplauso. Ele espalhava simpatia e
recebia simpatia.
Com sua eloquência
Ozanam consegue várias conversões
Faltava a Ozanam boa aparência
pessoal. Um de seus alunos, Carô, mais tarde professor na Sorbona e membro da
Academia Francesa, assim traçou seu retracto: “Ozanam não tinha a seu favor nem
a beleza nem a elegância nem a graça. Baixote e desengonçado, apresentava
fisionomia estranha, com sua miopia e cabelos despenteados. Mas ajuntava à sua
expressão de bondade um sorriso espiritual. Era como se um raio da alma passasse
por essa fisionomia”.
Causava admiração o alto
critério conquistado por aquele jovem de 28 anos, muito religioso. Lamartine destacava
suas “afirmações inquebrantáveis”. O fato é que ele dominava qualquer
auditório. Prova desse domínio ocorreu numa aula de Lenormant, antigo descrente
agora bom católico, chamado o “Convertido da Sorbona”: Despeitados, antigos
colegas de ateísmo prepararam com alguns alunos uma vaia, que começou a ser
ensaiada. Ozanam, entrando na classe, conseguiu, só com sua presença, silenciar
a turma.
Os homens de estudo que
passaram a praticar a religião, formaram o “Circuto Católico”, onde realizavam conferências
sobre assuntos variados. Ozanam, convidado, aceitou presidir a Conferência de
Literatura. Com seu ardor de sempre convidava os ouvintes a trabalhar pela
ciência, “no fundo da qua1 se encontrava Deus. Deus quer que a procuremos para
lhe provar”, o nosso amor por ela. O caminho é difícil e longo. Alcançado o fim,
a glória será da Providência”.
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