O que
sou hoje como vicentino!
No percurso do caminho como vicentino terei que recuar no tempo dos anos
60, na cidade do Porto, numa freguesia da Beira-Rio, de gentes que dedicava a
sua vida a trabalhar como estivadores em carga e descargas de carvão, do
bacalhau os Barcos Rebelos que descarregavam nos Cais da Ribeira, o Vinhos do
Porto. Hoje os tempos são outros, outras vidas, hoje vive-se do turismo e de
hotéis.
Os meus primeiros trabalhos como vicentino, passou na marginal da Foz do
Douro na recolha de roupas, mobiliário entre outras, para o Farrapeiro. Depois
percorri as ruas da paroquia: - Mercadores, Reboleira, o Cais da Ribeira, Av.
Gustavo Eiffel e o Bairro do Barredo. Nas minhas deslocações que fazia estava
longe de pensar que para “Ser Vicentino” passava pelas visitas ao domicílio,
pensava eu, que era uma intromissão nas suas vidas privadas, mas na caminhada
percebi que o fazer a “Visita ao domicílio estava o “chamamento de Deus” no
serviço ao pobre, ir “cheirar” a pobreza, estava ali a Caridade.
Muitas vezes a Conferência (como era pobre) o nosso pároco, graças a
Deus hoje ainda vivo, (nos deixava fazer um peditório num dos ofertórios de uma
das missas) e com algumas ajudas lá conseguíamos orientar as contas que, quase
sempre a zero. Nesse tempo, recordo que o nosso assistente espiritual, nos
dizia com esta frase: «Que não seja por falta de dinheiro que deixemos
de fazer a Caridade». Às minhas visitas, algumas vezes não levava
nenhuma saca com alimentos, não havia nessa altura abundância, levava a minha
visita como jovem, a conversa e sei que a partir de determinada altura senti,
que já não dava ir a casa de um pobre sem levar alguma coisa para eles comerem,
partilhar. Pensei então; tenho que levar alguma coisita comigo. Estávamos nos
anos 60 ao visitar uma família senti um vazio que pairava no ar pois no
atendimento quando cheguei, reparei que um deles ao aperceber-se que era eu,
encolheu os seus ombros olhou para o chão a memorar baixinho consigo: para que
vem chatear-me se não me trás nada… Sem me desmanchar cumprimentei-o e o senhor
com boa educação lá me atendeu: bom dia com um sorriso forçado…
Em contrapartida um dia deram-me a tarefa de visitar o “Carlinhos da
Sé”, no Barredo, uma figura típica da cidade, um senhor que tinha uma doença
genética, problema que hoje seria resolvido com uma operação e mudança de sexo.
Bom, o agradável dessa visita, sem levar a saca de alimentos o “Carlinhos da
Sé”, ficou feliz contou-me a sua estória da sua saúde, desabafou que não tinha
culpa de ser assim, chorou da sua má sorte da sua vida, mas compensou-me esta
visita, este senhor, sem pedir nada recebeu-me de braços aberto para conversar
comigo. Estava ali a verdade da chamada Caridade. Hoje como Vicentino da minha
Conferência, já nos tempos de “fartura” visito um casal e a minha preocupação
com eles e a promoção por uma vida melhor. Estou atento, aos movimentos de
forma a que um dia possa dizer que a partir dessa altura consiga… com vontade
dos próprios, devolver alguma dignidade e respeito que eles merecem e que
possam não estar dependentes do pouco que lhe damos que, passem a ser homens e
mulheres com direito e deveres a serem olhados como pessoas importantes e
independentes. Não é fácil pois é uma família com alguma falta escolaridade, de
recursos e falta de empregos; quatro adultos.
Agora, nesta altura a minha caminhada foi mudando com mais
responsabilidades pelas tarefas que exerço num conselho. Escolhi partilhar a
pensar contribuir para que os meus caríssimos confrades, também, nos tempos de
férias que se aproxima possam fazer uma paragem e pensar como vicentinos; «o
que sou hoje como vicentino». São tarefas que estamos “Todos” comprometidos
desde o nosso compromisso a Deus, à sociedade, aos pobres. O melhor e mais
agradável no conselho é que eu tenho, uma equipa que trabalha comigo sempre
disponível, com sentido pelos outros, pelo amor e com caridade que eu sinto a
forma das suas decisões, é gratificante. “SVP é que tem a culpa disto tudo…”
S.V. Paulo não ficará certamente zangado comigo se lhe pedir um favor,
mais um; que tenha paciência em me aturar e que também ajude todos os outros
vicentinos.
Hoje debate-se na sociedade o que andamos a fazer dizem; se calhar
fazemos uma caridade assistencial, da saca de compras, do ir buscar às sedes.
Poderemos ficar só com a distribuição das sacas, e desleixarmos com a visita ao
domicilio distribuindo “Afetos”; ouvir, pensar, ajudar, sofrer com eles e dar
ideias para que eles se possam libertar da sua condição dependência?... Hoje
tenho insisto com escritos e com palavras para que os vicentinos façam o que São Vicente de Paulo e Ozanam nos deixaram: A Visita Domiciliária.
Eu acredito que existe uma diferença como se faz e o modo como haja um
vicentino na Caridade. No espírito do vicentino o serviço ao Pobre é dar-se no
serviço de Deus, interagir com os pobres reconhecendo nas pessoas que tem
habilidades físicas e mentais suficientes para sair das dificuldades.
F.Teixeira
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