S. Vicente em troca de correspondência com o Pe. Codoing superior de
Roma, em 1644, dizia: fiquei bem impressionado com a vocação daquele povo e
talvez faça chegar para lá um sacerdote para Portugal. Foi a evangelização do
Oriente e as viagens dos missionários para Madagascar que fizeram Vicente
pensar em Lisboa como lugar de passagem e decisão. O projeto não se realizou,
mas mostra o interesse de S. Vicente por Lisboa. Claro que nessa altura
Portugal fazia parte de Espanha, embora já se passa 4 anos da Independência em
1640.
O que apraz registar, me pareceu que foi a partir
desta altura, mais propriamente que os Padres Lazaristas começaram a afixar por
Portugal. Remeto o pequeno texto deixando à vossa leitura atenta.
S.
Vicente e Portugal
Uma carta de Vicente
de Paulo para o Pe Codoing, superior de Roma, dizia, a 12 de agosto de 1644:
“Segundo me diz na sua última, se formos para Goa, poder-se-á fazer chegar
todos os anos de Lisboa a Goa e de lá a Ispaáo. O que V. Rev. me diz da vocação
para aqueles lugares impressiona-me, nomeadamente o caso das Índias. Já pensei
num sacerdote e num clérigo para Portugal: e talvez os mandemos por ocasião da
ida do embaixador que para lá val”
Foram poucas as
relambes de S. Vicente de Paulo com Portugal. Recorde-se que nos primeiros 60
anos de vida de S. Vicente, Portugal esteva politicamente ligado á Espanha. Só
a partir de 1640 Portugal existe como nação independente e, ainda assim, com
dificuldades várias para se impor na Europa e em Roma.
Foi a evangelização do
Oriente e as viagens dos missionários para Madagascar que fizeram Vicente pensar
em Lisboa como lugar de passagem e decisão. O projeto a que alude a carta acima
náo se realizou, mas mostra o interesse de S. Vicente por Lisboa.
A restauração da
independência de Portugal em 1640 não teve apenas dificuldades militares.
Também as teve diplomáticas. Madrid dificultou o reconhecimento da autonomia
portuguesa por parte de Roma. O reatamento das relações diplomáticas entre
Lisboa e Roma e o provimento das Sés portuguesas que iam vacando é o assunto
ou “as coisas” de que se trata nesta carta de S. Vicente a Mons. Ferentili, de
16 de outubro de 1654 (SVP tomo V p.62):
“Recebi a carta e o
livro que V. Ex. cia manda para o embaixador de Portugal, em cujas mãos eu
mesmo o entreguei e que e lê recebeu com muito respeito e testemunho de gratidão
por V. Ex. cia. Daí tomei ensejo para lhe dizer duas palavras sobre V. Ex. cia
e da considerarão de que goza, tanto na corte de Roma como nesta, e isso,
Monsenhor, em vista das coisas que o seu amo demanda em Roma e da exposição que
deve fazer das mesmas que procura. Não abriu a carta de V.E. na minha presença,
mas fez-me a honra de me dizer que desejava vir passar um dia inteiro connosco
em S. Lázaro, para me dar a honra de falar mais á vontade. Se tal honra me
conceder, pode estar certo, Monsenhor, de que nada esquecerei do que julgar a
propósito dizer-lhe para seu serviço”.
O embaixador de que se
Pala aqui era D. Francisco de Sousa Coutinho (cf Hist. Diplomática de
Portugal, vol I, 144)
Igualmente digna de
nota é a carta que, de Madagascar, escreve o P. Étienne a S. Vicente, em 1 de
março de 1661. “bem necessário seria que todos quantos destinardes para as
Índias (refere-se a todo o Oriente) soubessem a língua portuguesa, porque é
entendida em toda a parte, e quase não há negros, sobretudo nas Índias, que a
não falem. E o que tenho ouvido dizer a toda a gente e o que eu mesmo tenho
observado”. S. Vicente não leu esta carta, mas ela mostra que Portugal não era
desconhecido para o santo.
Lazaristas
em Lisboa
Na viagem (sem
retorno) que os missionários faziam para Madagascar, passavam ao largo da costa
portuguesa. Apenas a quinta expedição, que saiu de Nantes a 14 de Marco de 1658
e composta pelos Pes. Le Blanc, Arnoul, Desfontaines, Daveroult, o clérigo
Delaunay, um irmão coadjutor e dois negros que tinham sido catequizados em S.
Lázaro e agora regressavam á sua terra natal, aportou a Lisboa.
Uma tempestade avariou
o barco (outra versão diz que foi assaltado por piratas), que oito dias depois
aportou a Lisboa, por avaria. Os missionários foram acolhidos no palácio do
Conde de Óbidos (hoje, edifício da Cruz Vermelha), sobranceiro ao Tejo.
Reparadas as avarias o barco seguiu viagem com os missionários, menos o Pe
Daveroult que, certamente, por doença não embarcou. Os Condes de Óbidos, D.
Vasco e D. Joana, hospedaram e trataram carinhosamente os primeiros lazaristas
em Portugal. O Pe Daveroult ficou em Lisboa até meados do ano seguinte, 1659
(cf. duas cartas em SVP, Coste Vol. VIII).
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