Antônio Frederico Ozanam (um dos cofundadores
da Sociedade de São Vicente de Paulo), em sua inquieta e aprimorada discussão
sobre o trabalho, o capital e as relações profissionais, é considerado, no
Século XIX, um dos mais brilhantes precursores da Doutrina Social da Igreja,
consolidada pelo papa Leão XIII na Encíclica “Rerum Novarum” (1891).
Seus artigos, publicados nos jornais da época, foram às vezes a
única voz em defesa dos menos favorecidos. Ozanam era tão preocupado com o tema
que chegou a fundar em 1848 um jornal, em parceria com o Padre Lacordaire,
intitulado “Era Nova”, no qual apresentava seus posicionamentos sociais.
Por Doutrina Social da Igreja[1] entende-se
o “conjunto de ensinamentos católicos, contidos em numerosas encíclicas e
documentos papais, que definem princípios, critérios e diretrizes sobre a
organização social e política das nações, objetivando a construção de uma
sociedade justa e fraterna por meio da vivência do Evangelho”. Em outras
palavras, é a luta pela justiça social numa sociedade cheia de desigualdades,
destituída de valores e obcecada pelo dinheiro.
Muitos vicentinos só vão estudar e conhecer as bases da Doutrina
Social da Igreja quando participam dos módulos de formação da Escola de
Capacitação “Antônio Frederico Ozanam” (ECAFO). Depois disso, passam a tomar
gosto pelo tema e então começam a se interessar pelos documentos da Igreja, por
artigos especializados, por pesquisas na Internet e por reflexões sobre a
matéria. Muitos desses vicentinos nem sabiam que Ozanam tinha sido um dos
precursores dessa Doutrina.
A Doutrina Social da Igreja vai bem ao encontro dos desejos de
todos os membros da Sociedade de São Vicente de Paulo, pois estes não aceitam a
pobreza e querem ver todo ser humano feliz, realizado, próspero economicamente
e vitorioso em Cristo. Os Vicentinos buscam um mundo em que os excluídos sejam
os primeiros, e não os últimos, escolhendo estar ao lado desses irmãos mais
humildes, em unidade com eles. Os Vicentinos são eternos indignados com a
situação de opressão e de miséria, não se limitando a aliviar a pobreza com
cestas básicas ou peças de roupas.
A Regra da SSVP (parte internacional), em seu Capítulo 7, é bem
clara ao defender que “os Vicentinos sonham com um mundo mais justo no qual
seriam reconhecidos os direitos de cada um; os Vicentinos são chamados a
participar da criação de uma ordem social mais justa e equitativa; a injustiça,
a desigualdade, a pobreza e a exclusão resultam de estruturas sociais,
econômicas ou políticas injustas”. Também a Regra exorta os confrades e as
consócias a identificarem as causas da pobreza para mitigá-las (item 7.1.).
Desta forma, a Doutrina Social da Igreja se encaixa perfeitamente no
Regulamento Vicentino.
A Família Vicentina, da qual a SSVP faz parte, está
desenvolvendo o Projeto “Mudança Sistêmica”, que objetiva tirar os miseráveis
da situação em que se encontram, gerando emprego e trabalho, para que, com
recursos econômicos próprios, os Pobres possam alimentar-se, manter a saúde,
estudar e, desta forma, conseguir trabalho que os liberte da humilhante
situação de pedintes.
Esse projeto está completamente inserido nos fundamentos da
Doutrina Social da Igreja, pois estimula, por meio do trabalho, a realização
social de homens e mulheres, filhos de Deus, especialmente os Pobres, os
prediletos do Senhor.
Renato Lima de Oliveira
16º Presidente Geral da Sociedade de São Vicente de Paulo
16º Presidente Geral da Sociedade de São Vicente de Paulo